segunda-feira, 28 de março de 2016

José Pacheco: "Não se aprende nada em uma aula"

A firme posição no título desta postagem é do educador português José Francisco de Almeida Pacheco, um dos idealizadores da Escola da Ponte e colaborador do projeto Âncora, que estimulam a autonomia dos estudantes e também dos professores. Algumas de suas ideias foram apresentadas durante o Congresso Nacional Educadores do Futuro, evento realizado pela web, na semana passada, reunindo palestrantes de diversas áreas, todas relacionadas à educação.

Este blogueiro teve a oportunidade de acompanhar algumas destas apresentações, mas foi a fala de José Francisco que mais chamou a atenção, por suas ideias revolucionárias e, principalmente, pelas possibilidades de que elas sejam aplicadas na prática. "Os caminhos que a educação do século XXI no Brasil precisam seguir" foi o tema abordado pelo palestrante.

Escola da Ponte funciona em Portugal desde 1976
"Não se aprende nada em uma aula e quando descobri isso, fomos alterando lentamente a maneira de fazer e quando fizemos diferente, tudo ficou diferente", explica o educador, justificando o pensamento que, em um primeiro momento pode ser considerado radical, mas que aponta alguns dos caminhos que a educação brasileira pode tomar e, em alguns casos, já está tomando.

Para Pacheco, o modelo de escola adotado no país está obsoleto a mais de 100 anos e, de fato, não existe uma "apostila" ou um "manual" que determine como fazer. O segredo, segundo ele, é a autonomia. "Não utilizamos uma doutrina, com instruções passo a passo, o que apresentamos são exemplos, pois quando se constrói um modelo, já está errado", relata.

Página inicial do site do Projeto Âncora, que funciona em Cotia
Ele pontua algumas das competências necessárias ao educador do século XXI. "O professor tem que saber trabalhar em equipe, deve ter autonomia, ter integração com a comunidade, ter competência no campo da avaliação (não das provas), ter a capacidade de ensinar a aprender e também a capacidade de criar vínculos, afetivos e sociais, além de conhecimento das novas tecnologias", pontua Pacheco, destacando ainda que coragem e ousadia são características desejáveis a todos os educadores.

"Dar um laptop para cada aluno não é educação", destaca, quando questionado especificamente sobre o uso das ferramentas tecnológicas. "As novas tecnologias devem humanizar o ato de aprender e para passar da informação para o conhecimento é preciso mediação pedagógica e este é um dos papéis do professor", explica.

São muitos os fatores contrários às mudanças, lembra Pacheco, pontuando que alunos, pais, diretoriais, secretarias de educação e mesmo os professores, por diferentes motivos, resistem às novidades que tem como objetivo transformar todo o sistema educacional, mas há motivos para manter o otimismo. "A educação deve ser baseada na qualidade da relação e eu acredito no professor e, com competência e ética, todos são capazes de ser coerentes com o que acreditam", conclui. 

Escola Oficina Pindorama é um dos exemplos que adotam práticas inclusivas de educação
Além da Escola da Ponte, em Portugal e do Projeto Âncora, em Cotia, o professor Pacheco destaca ainda a Escola Oficina Pindorama, em Vargem Grande Paulista, como exemplos de onde algumas dessas mudanças já estão sendo aplicadas. "São mais de 200 projetos em andamento em todo o Brasil, nos quais os professores são mais felizes, não ficam doentes e os resultados são incríveis", completa.

Confira uma apresentação de José Pacheco no TED x Passo Fundo, onde ele explica melhor porque em uma aula nada se aprende:

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