A firme posição no título desta postagem é do educador português José Francisco de Almeida Pacheco, um dos idealizadores da Escola da Ponte e colaborador do projeto Âncora, que estimulam a autonomia dos estudantes e também dos professores. Algumas de suas ideias foram apresentadas durante o Congresso Nacional Educadores do Futuro, evento realizado pela web, na semana passada, reunindo palestrantes de diversas áreas, todas relacionadas à educação.
Este blogueiro teve a oportunidade de acompanhar algumas destas apresentações, mas foi a fala de José Francisco que mais chamou a atenção, por suas ideias revolucionárias e, principalmente, pelas possibilidades de que elas sejam aplicadas na prática. "Os caminhos que a educação do século XXI no Brasil precisam seguir" foi o tema abordado pelo palestrante.
Escola da Ponte funciona em Portugal desde 1976 |
"Não se aprende nada em uma aula e quando descobri isso, fomos alterando lentamente a maneira de fazer e quando fizemos diferente, tudo ficou diferente", explica o educador, justificando o pensamento que, em um primeiro momento pode ser considerado radical, mas que aponta alguns dos caminhos que a educação brasileira pode tomar e, em alguns casos, já está tomando.
Para Pacheco, o modelo de escola adotado no país está obsoleto a mais de 100 anos e, de fato, não existe uma "apostila" ou um "manual" que determine como fazer. O segredo, segundo ele, é a autonomia. "Não utilizamos uma doutrina, com instruções passo a passo, o que apresentamos são exemplos, pois quando se constrói um modelo, já está errado", relata.
Página inicial do site do Projeto Âncora, que funciona em Cotia |
Ele pontua algumas das competências necessárias ao educador do século XXI. "O professor tem que saber trabalhar em equipe, deve ter autonomia, ter integração com a comunidade, ter competência no campo da avaliação (não das provas), ter a capacidade de ensinar a aprender e também a capacidade de criar vínculos, afetivos e sociais, além de conhecimento das novas tecnologias", pontua Pacheco, destacando ainda que coragem e ousadia são características desejáveis a todos os educadores.
"Dar um laptop para cada aluno não é educação", destaca, quando questionado especificamente sobre o uso das ferramentas tecnológicas. "As novas tecnologias devem humanizar o ato de aprender e para passar da informação para o conhecimento é preciso mediação pedagógica e este é um dos papéis do professor", explica.
São muitos os fatores contrários às mudanças, lembra Pacheco, pontuando que alunos, pais, diretoriais, secretarias de educação e mesmo os professores, por diferentes motivos, resistem às novidades que tem como objetivo transformar todo o sistema educacional, mas há motivos para manter o otimismo. "A educação deve ser baseada na qualidade da relação e eu acredito no professor e, com competência e ética, todos são capazes de ser coerentes com o que acreditam", conclui.
Escola Oficina Pindorama é um dos exemplos que adotam práticas inclusivas de educação |
Além da Escola da Ponte, em Portugal e do Projeto Âncora, em Cotia, o professor Pacheco destaca ainda a Escola Oficina Pindorama, em Vargem Grande Paulista, como exemplos de onde algumas dessas mudanças já estão sendo aplicadas. "São mais de 200 projetos em andamento em todo o Brasil, nos quais os professores são mais felizes, não ficam doentes e os resultados são incríveis", completa.
Confira uma apresentação de José Pacheco no TED x Passo Fundo, onde ele explica melhor porque em uma aula nada se aprende: